Colaboração especial:
Leandro Silvestrini assistiu ao ensaio da versão Cats brasileira e nos fez uma resenha comentando suas impressões sobre a peça. Desde já agradeço a colaboração desse amigo querido por enriquecer o Notas de rodapé com suas opiniões. Confira:
Cats
Dizem que uma forma de se classificar pessoas é entre as que gostam de cachorros e as que gostam de gatos. Faço parte do primeiro grupo. Não odeio totalmente os felinos, mas ouvi muito que eles são "bichos traiçoeiros". Além disso, tenho séria alergia a pelo de gato e não consigo ficar perto deles por muito tempo. Apesar de tudo isso, ontem eu aceitei o convite de uma amiga para assistir à pré-estreia de Cats no Teatro Abril. Me senti honrado, na verdade. Nunca tinha ido a uma pré-estreia e assistir o musical ao lado do pessoal da imprensa e de pseudo-celebridades me deixou empolgado.
A primeira decepção ocorreu quando percebi que não havia nenhuma pseudo-celebridade no teatro. Muita gente bonita, sim. Muitas delas se comportando como se fossem de fato famosas. Mas ninguém conhecido, pra falar a verdade. Poucos antes de começar, o diretor falou ao público e fiquei sabendo que não era a pré-estreia, mas sim, um ensaio assistido. A diferença é que a peça poderia ser interrompida caso houvesse algum problema.
O começo foi sensacional! Cenários, fantasias, luzes e coreografias estavam impecáveis. A música era bem envolvente também. Conforme as canções se sucediam, fui me dando conta de uma coisa: não estava entendendo a história. Era muito difícil compreender o que os atores cantavam, e as cenas mudavam sem nenhum nexo aparente. O público delirava, aplaudindo freneticamente a cada pausa entre as interpretações.
Algumas músicas realmente empolgavam, mas comecei a me incomodar com a ideia de estar assistindo a pessoas vestidas de gatos, dançando e cantando. O intervalo veio e pude compartilhar minhas experiências com amigos. Não era só eu. Ninguém conseguia entender o que estava se passando na peça. O segundo ato começou e eu já não tinha esperanças de maior ânimo. Cheguei até a tirar um cochilo para ver se o tempo passava mais rápido. Passou. Quando vi, já estava no final e o público aplaudia ensandecido.
Cats é muito ruim. Uma das maiores frustrações da minha vida. Durante anos nutri a esperança de que pudesse ser bom, depois de tantos anos em cartaz em Londres e na Broadway. Tecnicamente é ótimo, mas a história não convence. A ida poderia até ter compensado para mim, que não paguei nada pela entrada. Mas não compensou. Foram três horas da minha vida que poderia ter gasto fazendo muitas outras coisas.
Talvez num contexto anglo-saxão a experiência pudesse ter sido melhor. Visitar Londres e Nova Iorque e assistir a um musical é um bom programa. As pessoas acabam nem reparando que não há história. O musical se encaixa dentro de uma outra história, que é a viagem turística dos que estão assistindo. Sou muito fã de musicais, me entusiasmo bastante com o gênero. Cats me fez lembrar que não basta gostar do gênero, é preciso um bom roteiro também. Quanto aos felinos, continuo não simpatizando com eles.
Leandro Silvestrini
Mais de Silvestrini em: dentrodemimtemoque.blogspot.com
Michele Lima