A 83ª edição do Oscar foi tão estimulante como um copo de leite morno. Seguindo o que foi estabelecido no ano passado, a cerimônia contou com dez indicados na categoria de Melhor Filme e dois apresentadores, James Franco e Anne Hathaway, que não conseguiram se igualar em qualidade com os experientes anfitriões de 2010, Alec Baldwin e Steve Martin. Porém, não acusemos esses talentosos jovens hollywoodianos de incompetência, quem já os viu apresentando o tradicional Saturday Night Live pode garantir que eles sabem entreter o público, o problema é que os roteiristas do Oscar não são tão competentes como os do SNL e é nessa hora que a experiência de um Steve Martin faz falta. Talvez, por já pressentirem o inevitável fiasco, os organizadores trouxeram ao palco o hilário Billy Cristal, um dos melhores apresentadores que os Academy Awards já teve.
A imponência técnica e criativa a que estávamos acostumados nas últimas edições, também não deu as caras este ano. Em vez de um quinteto de oscarizados fazendo homenagem aos indicados nas categorias de ator e atriz, os vencedores do ano passado, Jeff Bridges e Sandra Bullock, solitários, teciam um rápido monólogo sobre cada um dos competidores. Em vez dos pomposos números musicais, apresentações modestas para as canções indicadas. Em tempos de crise financeira, o Oscar seguiu muito à risca a máxima “menos é mais”. No entanto, essa simplicidade foi bem-vinda na bela e merecida reverência a Lena Horne, uma das pioneiras atrizes negras de Hollywood que abriu caminho para tantas outras como Halle Berry, escolhida para apresentar a homenagem.
Nas vitórias também houve pouca surpresa. Apesar da tentativa (frustrada) de aproximação do público jovem, ao transformar Harry Potter, a saga Crepúsculo e A Rede Social em musicais, foram os velhotes da Academia que deram a palavra final ao eleger, como previsto, o convencional O Discurso do Rei como Melhor Filme e Direção. O filme de Tom Hooper é sem dúvida muito bom, mas não se equipara à ousadia de seus concorrentes como A Origem, A Rede Social e Cisne Negro, meu favorito. O Brasil também continuou a comer poeira quando o documentário Lixo Extraordinário perdeu para o favorito Trabalho Interno. As categorias de Ator e Atriz, e de Ator e Atriz Coadjuvantes, embora também previsíveis, foram bastante justas com as respectivas vitórias de Colin Firth (O Discurso do Rei), Natalie Portman (Cisne Negro), Christian Bale (O Vencedor) e Melissa Leo (O Vencedor). Outro agradável triunfo veio na categoria de Melhor Roteiro Adaptado para o genial Aaron Sorkin (A Rede Social).
A surpresa só chegou mesmo na entrega da estatueta para o Melhor Filme Estrangeiro, que foi para o Dinamarquês Em Um Mundo Melhor, e não para o mexicano Biutiful, que tinha destaque entre os apostadores depois de sua vitória no Globo de Ouro, a semelhança do que ocorreu no ano passado quando o argentino O Segredo dos Seus Olhos derrotou o favoritismo do alemão A Fita Branca.
E, quando pensávamos que, aos minutos derradeiros da cerimônia, o Oscar não poderia ficar mais monótono, um coral de crianças adentra o palco, nos remetendo a breguice do Global Criança Esperança. Os prêmios da academia continuam firmes em seu objetivo de promover o cinema, mas a festa este ano deixou muito a desejar.
Abaixo a lista completa de vencedores:
Melhor Filme: O Discurso do Rei
Melhor Direção: Tom Hooper, O Discurso do Rei
Melhor Ator: Colin Firth, O Discurso do Rei
Melhor Atriz: Natalie Portman, Cisne Negro
Melhor Ator Coadjuvante: Christian Bale, O Vencedor
Melhor Atriz Coadjuvante: Melissa Leo, O Vencedor
Melhor Animação: Toy Story 3
Melhor Roteiro original: O Discurso do Rei
Melhor Roteiro Adaptado: A Rede Social
Melhor Filme Estrangeiro: Em Um Mundo Melhor, Dinamarca
Melhor Direção de Arte: Alice no País das Maravilhas
Melhor Fotografia: A Origem
Melhor Figurino: Alice no País das Maravilhas
Melhor Edição: A Rede Social
Melhor Maquiagem: O Lobisomen
Melhor Trilha Sonora: A Rede Social
Melhor Canção: We Belong Together,Toy Story 3
Melhor Documentário de Longa-Metragem: Trabalho Interno
Melhor Documentário de Curta-Metragem: Strangers no More
Melhor Curta-Metragem de Animação: The Lost Thing
Melhor Curta-Metragem: God of Love
Melhor Edição de Som: A Origem
Melhor Mixagem de Som: A Origem
Melhores Efeitos Visuais: A Origem
Vinicius Martins