Porque a verdade é algo medonho
Quando vi os primeiros minutos, da primeira vez, imediatamente achei que seria mais um daqueles tantos filmes que usam as partes de impacto da vida do “homenageado” e não se tem nem ao menos o trabalho de pensar em escrever um roteiro. Bem, poderia ter continuado, mas não! Estes dias, dei meu braço a torcer e resolvi encarar, o que pensei que seria uma decepção, de frente.
O longa é baseado no primeiro romance do psicoterapeuta, Dr. Irvin D. Yalom e narra uma paralelo entre grandes figuras da época: Nietzsche, Freud e Breuer. O drama de 2007, dirigido por Pinchas Perry, conta o desespero avassalador de Breuer e Nietzsche, quando ambos se vêem perdidamente apaixonados, mas o primeiro não pode concretizar seu amor por uma paciente e o segundo não é correspondido da forma que desejava pela poetiza russa, Lou Salome.
Amigo de Breuer, Freud ouve todas as confissões do médico que começa a realizar um tratamento com o filósofo. Breuer lê os livros de Nietzsche, escuta sua versão dos fatos, tenta compreender seu jeito intolerante e impaciente com certas decisões e atos sociais.
À beira do desprendimento e do desespero, Nietzsche sente-se só, mas continua a produzir e decide entrar num acordo com Breuer para o tratamento: um será o médico do outro. Mesclando os fatos reais com ficção, a obra tira suspiros em certos momentos e despeja um balde de tensão em outros. Para quem ignora a cura pela psicanálise, é uma boa pedida e para quem acredita, vale a pena também.
O desenlace é puro. As lágrimas de Nietzsche lavam a alma do espectador, que provavelmente há de chorar com ele, porque no meio de tanta solidão vê-se que há um espírito pronto para o desenlace de um amor ou de uma amizade plena e eterna. Tanto na ficção, como na realidade, a vida de um dos filósofos mais mal compreendidos foi árdua, justamente pela questão do mau entendimento de tantos leitores, que usurparam suas idéias para o lado errado.
Os efeitos especiais usados no filme são um tanto quanto bizarros, mas acredito que faz parte de uma composição idealizada pelo diretor, justamente para compor a questão do universo onírico e do real. A trilha sonora são obras dos grandes mestres da música clássica, incluindo Wagner, de quem Nietzsche fora amigo e, após pontos de vista divergentes, rompera o lanço.
Palmas para Ben Cross, que interpreta o Dr. Breuer e Armand Assante, que incorporou Nietzsche de uma forma avassaladora. When Nietzsche Wept, no original, pode ser considerado um filme triste para muitos, mas ele deixa a esperança de dias melhores e de que até o criador do super-homem pode amar e chorar.
Ivna Alba