Entre dois mundos
Afinal, eu tinha passado a tarde inteira pesquisando sobre Recife dos anos de 1880, aí quando eu sento, coloco meu óculos 3D, toda cheia de mim e me armo com meu enorme pacote de jujuba, eis que me vejo em Londres no fim do século XIX. Quer saber o primeiro pensamento que vem a mente nesse instante? Não? Eu conto assim mesmo: "Ninguém Merece!". Mas, eu já estava ali mesmo néh, tinha pago, estava bem armada com minhas jujubas, então se era pra ser o jeito, o melhor foi ver.
“Entre dois mundos” conta a história de John Carter, um guerreiro nato, mais escorregadio do que mussum ensaboado que, tentando fugir de um inconveniente convite de participar de mais uma guerra, acaba indo parar em nada menos que Marte, mas ainda assim não consegue fugir de ser ver como um nobre participante de uma guerra. O que não deixa de ser uma ironia, admitamos rsrs...
Eu não precisei nem sair do cinema para perceber que "Entre dois mundos" não é uma história de nosso tempo e sim um típico conto de ficção cientifica do século XIX. Mais tarde fiquei sabendo que o autor da história é o mesmo que escreveu o “Tarzan”. Alguns sites dizem que a adaptação foi feliz em relação aos avanços tecnológicos e derivativos, realmente o filme é cheio de efeitos especiais e pirotecnias, mas nem isso faz a história deixar de ter a cara do século XIX.
A sociedade tecnologicamente desenvolvida de Marte é toda caucasiana branca, diversidade étnica nenhuma, a religião é monoteísta, diferindo do cristianismo apenas no tocante ao gênero da divindade, em que se cultua a uma deusa, o que, aliás, não impede do líder político e bélico de todos os povos do planeta ser exercido por homens, mesmo existindo mulheres guerreiras e cultas.
Ah, mas como estamos em Marte, então, não poderia faltar os homenzinhos verdes néh?!?! Lá tem, mas os homens verdes são os selvagens da história, guerreiros organizados em uma grande tribo, perdidos no meio do deserto, cheios de superstição e práticas de justiça violentas, além de claro terem 4 braços. Ainda que alguns deles sejam dotados de um bom coração, são definitivamente carentes de um contato salvador com a civilização que chega com o Carter, clarooo...
Qualquer semelhança com a imagem produzida pelos europeus sobre a África e os povos africanos durante o século XIX e inicio do XX não é mera coincidência, certo?!!!
Bem, no frigir dos ovos não foi dessa vez que eu consegui fugir do trabalho, mas confesso que me diverti assistindo ao filme; os efeitos especiais são o que devem ser, a história é recheada com humor, tem um romance legal entre o Carter e a Princesa de Marte, o Taylor Kitsch tem um corpinho inspirador e no final a gente ainda pode dar uma de nojentinha e dizer que o filme nem é tão legal e blá... blá... blá...
Jacilene Clemente